:: Café ::

We're losing hope, so we invest in dope to feel our vacant feelings

Eu tinha todos os motivos para cometer meu assassinato, mas já havia feito isso para deixar minha família atrás. O tempo estava nublado, nuvens nem um pouco diáfanas dançavam por aquele céu cinza, suspirei insatisfeita. Havia saído da Praia das Rochas por besteira, mas havia nenhum argumento que desse meu braço à torcer, nunca.
Somente depois de uma longa caminhada encontrei um lugar que aparentemente havia me encantado, era um Café. Não parei para pensar e fui logo entrando no recinto, um tanto pitoresco, havia me agradado.
Um determinado número de pessoas presentes naquele Café, mas não o deixava barulhento, pelo contrário, o deixava agradável. Passei um olhar por toda área do Café e encontrei somente uma mesa vazia, rumei para a mesma sem rodeios.
Tranquilidade, era o adjetivo mais próximo de tudo que estava sentindo. Entretanto, minha cabeça não parava de rodar em relação à praia. Suspirei tentando afastar determinados vislumbres.

We're losing hope, so we invest in dope to feel our vacant feelings

O tempo passava diante meus olhos, não estava fazendo nada naquele Café, ao menos havia pedido algo, fiquei apenas tamborilando meus dedos na mesinha, sonhando acordada com a vida que iria levar à diante, não tinha mais um futuro perfeito. Havai desistido de tudo antes de pensar duas vezes, foi o meu erro. Suspirei novamente e puxei um camafeu que estava gurdado em minha casaca, aquilo era da minha mãe. Como sentia falta da minha família, apesar de todos aqueles acontecimento, eu tinha que seguir em frente. Enquando me perdia em fracassadas conclusões, eu observei uma figura familiar adentrar no recinto, pisquei inúmeras vezes, era Chris, o garoto que havia conhecido na praia.
E lá estava ele, já sentando na mesa que eu estava. Tentei sorrir, mas não deu certo. Apenas permaneci sem expressão, fitando-o.
— Destino.. quem sabe, não? — questionei com uma ponta de zombaria na voz. Não havia maldade nenhuma na minha voz, pela primeira vez não estava irritada naquele instante, estava pensativa.
Soltei uma exclamação, havia algo errado naquilo tudo, havia algo errado em Chris. Observei o mesmo cautelosamente, tentando deduzir aquele "algo de errado", mas fora um fracasso.
— Ei, o que houve? — ao perguntar minha expressão pareceu preocupada com aquela reação de Chris. Preocupação...

We're losing hope, so we invest in dope to feel our vacant feelings

Percebi no mesmo instante que Chris não queria tocar nesse assunto, não iria forçar a barra naquele assunto. Poderia ser chata, irritante, mas não era ignorante de fazer uma coisa assim. Me prendi olhando para fora do Café, a chuva tinha seu começo, passei bons instantes apenas observando o cair da chuva, até que vi Chris com um “bigode” de creme, sorri e deixei uma gargalhada sai da minha boca. Ele afirmou está sem assunto, eu também estava sem assunto...
Guardei o camafeu no bolso da casaca e me pus com a atenção em Chris, observando cada movimento seu. Cruzei meus braços, sentindo meu corpo se tornar gélido, um dos meus defeitos, sentir frio sem previsão.
— E... encontrou sua desejada festa? — perguntei fazendo um coque no cabelo com um pincel de pintura, havia adquirido um hábito com meus pais que eram pintores, sempre carregar algo relacionado à pintura. Mas naquelas condições a saudade que vinha ao invés das boas recordações. Mas não deixava de ser um hábito que não iria eliminar, era um tanto pitoresco agir de tal forma.
— Gosto de pintura, tenho muita afinidade com a mesma! — comentei sem nenhum propósito, e fiquei a tamborilar meus dedos frios da mesa.

We're losing hope, so we invest in dope to feel our vacant feelings

Suspirei ainda meio risonha à frente daquilo, Chris ainda não havia notado o “bigode” em seu rosto. Peguei um guardanapo que estava sobre a mesa, e me aproximei de Chris limpando os resquícios de creme em seu rosto. Por fim, me aprumei no meu assento e coloquei o guardanapo na mesa.
— Pronto! — disse um pouco tímida, minha face começou a ficar fria junto com meu corpo, novamente o frio estava me afetando numa hora dessas. Ignorei aquilo e me pus conversando com o mesmo:
— Não costumo ter companhia, não costumo ter amigos! — finalizei abaixando a cabeça e cruzando os braços. — Provavelmente, você deve viver rodeado por amigos, não é? — perguntei sorrindo e deixando um suspiro sair. Não costumava conversa, meu únicos amigos eram somente, livros ou bichinhos de pelúcia que carregava por todos os lugares, eu estava até com um Teddy Bear socado em um dos meus bolsos, mas não iria tirá-lo. Se eu ousasse tirá-lo de seu lugar e Chris visse iria caçoar muito da minha cara, e a irritação voltaria à seu extremo.

Slow down, you crazy child, you're so ambitious for a juvenile

Suspirei tentando manter a calma, eu não poderia ir à alguma festa. Eu tinha me limitado a fazer coisas como Felícia, eu era o oposto de Felícia. Portanto, eu preferia me matar à frequentar uma festa, por mais que uma festa fosse mais divertida do que está trancada em uma biblioteca estudando, eu tinha que me policiar à respeito de algumas coisas.
Fechei os olhos, tentando manter minha calma diante aquilo, eu era diferente.. eu era uma puritana chata sonhando em ser um perfeito exemplo.
— Não é assim, eu não posso ir a festas porque... — não você não irá falar isso, não poderia. — … tenho medo de festas! — conclui com uma ponta de incerteza na voz, mas nada que estivesse explícito.
Eu estava consiente que havia falado aquilo, mas tudo isso parecia uma pergunta ao invés de uma afirmativa firme.

Um sorriso se revelou dos meus lábios e até um riso afetado saiu dos mesmos. Havia um vasto tempo que não conversava com alguém e contava coisas do meu pessoal, coisas que Felícia tinha relação, eram coisas que queria manter no morto. Entretanto as palavras que Chris havia proferido tiveram um efeito sobre mim, a satisfação. Cobrir minha boca, escondendo um sorriso, era interessante.
— Festas me fazem recordar da minha irmã, esse deve ser o motivo para tanto evitar festas, mas há uma exceção! — suspirei tentando afastar pensamentos que já haviam morrido. Desviei meu olhar de Chris, o medo e frustração presentes naquelas minhas orbes ébano.
— Aquela fora a época que eu tomei meu próprio rumo, deixando minha casa...

Balancei a cabeça e lhe joguei um olhar obstúpido. Tentei formular algum pensamento coerente, que pudesse explicar a minha vida, a minha reviravolta. Passei minhas mãos pelas minhas madeixas, eu tinha que explicar. Eu simplesmente não havia fugido de casa, haviam motivos para tudo aquilo.
— Atualmente, meus pais e até minha irmã pensam que estou morta, forjei minha própria morte... — minha voz saiu, respirei tentando manter o controle. — Não tenho casa e ao menos um lugar fixo para ficar, e não sei como me sustento! — mordi meus lábios ao proferir aquilo, não era nem um pouco divertido, ter empregos temporários, passar algumas noites andando por aí, dormir em hoteis vagabundos...
— Não há nada de divertido, e tive que sair de casa por motivos importantes! — a cada palavra que saía da minha boca flashes das competições de Felícia comigo eram relembrados. Cruzei os braços sem expressão no semblante. — Sou diferente.
Entretanto, poderia afirmar com toda certeza que aquela minha situação fora boa, aprendi a deixar aquela imagem esnobe de lado, apesar de ainda parecer um pouco. Antes era insuportável, mas aquilo era passado.. e não havia nenhum motivo para comentar sobre isso. Eram cinzas do passado.

Slow down, you crazy child, you're so ambitious for a juvenile

Observei a hora no relógio de pulso, poderia dar uma desculpa que estava tarde e tinha que trabalhar, mas precisava desabafar ou algo parecido. Suspirei e mantive meu olhar para o chão, seria uma pouco complicado organizar todas aquelas minhas ideias e explicações, mas poderia tentar. — Posso ser diferente de todas maneiras... — soltei um riso falso, mas não havia descontraído como queria. — Minha vida sempre foi diferente, meus pais me evitavam.. me colocando para viver longe! E com a chegada de Felícia eles começaram a agir como eu não fosse da família, Felícia era o puro exemplo e eu era a pedra no sapato! — Felícia era um falso exemplo, viva frequentando festas por enquanto eu me matava estudando. Fiquei tamborilando meus dedos na mesa, ainda sem nenhum expressão no rosto, eu não deveria ter contado tudo aquilo. As lembranças iriam começar a voltar, quando mais me recordava daquele passado, mais ele me atormentava. E felizmente ou infelizmente, eu havia acabado com um final infeliz...

Slow down, you crazy child, you're so ambitious for a juvenile

Um sorriso se estampou no meu rosto, mas várias objeções surgiram em meu interior, eu já era a pedra no sapato dos meus pais, e novamente fazer da vida de alguém um verdadeiro inferno? Ou eram meus pais que não gostavam de mim, havia essa situação. Fitei Chris, aquele convite era um pouco desafiante, mas era um convite que iria me servir... Balancei um pouco a cabeça, eu precisava pensar um pouco antes de tomar minhas decisões.
— Nós dois no mesmo teto? Você tem plano de saúde, né? — ri um pouco imaginando minha irritação voltando e o que iria fazer com Chris. — Você não iria me aturar na primeira semana, iria ser uma pedra no seu sapato... já que somos opostos! — falei com ironia, mas era um convite que iria me servir, aceitar esse convite. A vergonha bateu no meu interior naquele instante, eu iria aceitar ou não?
— Se eu aceitar, você terá que me suportar todo dia... — lhe certifiquei ainda um pouco risonha e de repente corei, era vergonha.

Slow down, you crazy child, you're so ambitious for a juvenile

Não sabia como agradecer esse convite, após tantos anos poderia confiar em alguém ou até mesmo alguém me fazer um convite assim? Suspirei e sorrir para Chris. Aquilo não poderia ser realidade, me policiei para não transparecer demais que estava empolgada com tudo aquilo, estava parecendo uma mendiga atrás de uma casa, rir um pouco daquilo. Mas enquanto eu estava nessa vida poderia até perceber Felícia aproveitando todos os mimos dos meus pais. Aquela era minha família que estava morta, não tinha mais um valor para mim, não emocionalmente. Olhei para Chris tentando afastar aqueles pensamentos.
— Correr risco. — repeti suas palavras com sarcasmo e rir. — Eu falo sério, será que você irá me aguentar? E ao menos como irei agradecer tudo isso? Anteriormente na praia, fui uma verdadeira megera contigo! — relembrei um pouco olhando para baixo.