:: Floresta ::

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Ele havia ido embora na primeira chance que tivera. Chris simplesmente partira, indo encontrar Frida, sem ao menos olhar para mim alguma vez, sem ao menos se importar comigo. E eu apenas ficara lá, sentada perto do balcão, feito uma idiota. Acho que era isso que eu era. Uma completa idiota, por mais uma vez cair nessa ideia de amor. O que isso tinha de bom? Apenas estragava a gente, fazia nos criarmos expectativas cedo demais, e qualquer erro, qualquer outra coisa que interfira, a coisa explode em você em diversos pedaços cortantes, que parecem cegar sua alma, e te levar ao mais profundo abismo. Era assim que eu me sentia, ao ver como Chris havia saído tão rapidamente dali, para encontrá-la, se desculpar com ela, e fazer sabe-se o que com ela. Mas eu deveria ter adivinhado. Frida era magnífica. Ela tinha suas qualidades, era engraçada, diferente, alguém que Chris precisava. Já até morava com ele. Eu fui apenas a estúpida a não perceber aquilo logo cedo. Eu sempre era a estúpida. Agora, eu ainda estava com aquela expressão solitária e idiota, no balcão, esperando que ele talvez voltasse. Mas nada. Deixei algumas moedas no balcão sem ao menos terminar minha bebida, e saí aos tropeços do local. Em direção a qualquer canto. Qualquer lugar longe daquilo, desse restaurante, de Chris, de Frida, do amor. Algumas lágrimas cortavam minha face, e eu sentia-me enjoada, tanto porque demorei realmente um tempo para perceber aonde estava, depois de caminhar pelo que se pareceram longas horas. Longas e dolorosas. Me encontrei na Floresta, numa área particularmente lotada de galhos a todas direções, que raspavam em minha pele, abrindo cortes aonde o sangue surgia aos poucos. Não me importei. Eu apenas queria ficar sozinha, e deixar tudo aquilo vazar de mim. Encontrei uma árvore e desci ao chão, lentamente, apoiada no troco. Cruzei as pernas sobre o peito, abafando minha cabeça e sentindo as lágrimas finalmente descerem sem eu contê-las. Chorei de frustração por eu ser idiota, chorei por raiva de Frida, e ainda mais por sentir raiva dela. Chorei de tristeza por Chris, quem eu era a ridícula de ter me apaixonado, apesar de saber que ele não corresponderia. Ele ao menos havia percebido, e quando percebera, me trocara no primeiro instante. O quão o amor podia destruir a vida de alguém, fazer você sentir-se a pior coisa do mundo. O sangue parecia escorrer mais rápido, e uma parte mais sensata de minha mente pensou se não poderia o corte ter sido realmente fundo, algo que eu deveria me preocupar, mas... foda-se. Quem iria se importar com aquilo? Minha irmã me odiava, inclusive minha madrasta. Meu pai estava em outro país. David, meu único amigo, se fora. Me mudei para cá, longe do resto de meus amigos, totalmente sozinha. E eu odeio Melanie, odeio meus pais, odeio esse lugar, odeio Chris, odeio o amor, mas principalmente, eu me odeio. Essa Cassandra que existe não iria cooperar nunca. Ela apenas se foderia, e isso teria que ser mudado. Eu não seria mais a mesma. Eu deveria ser mais forte. Outra pessoa. Talvez evitar Chris, até que eu realmente esqueça esse sentimento e trate apenas como amizade. Talvez, nem ter a amizade, se necessário. Conhecer outras pessoas. Mas não me apaixonar. Isso era completa perda de tempo. Mas a hipótese de tentar esquecer Chris me fazia hesitar. Eu o odiava por ter feito isso comigo, em tão pouco tempo. Mais sangue escorria. Agora, da minha cabeça, que latejava fortemente. Será que, enquanto eu vinha para cá, eu acabara batendo em algo? Eu não havia percebido, mas alguma parte da minha mente me dizia para eu sair dali. Correr. Salvar-me. Ter um bom-senso Mas eu não a seguia. Eu apenas deixei o sangue seguir seu curso enquanto pensava em como eu tentaria mudar dali em diante. Sem amor. Apenas protegendo-me desse sentimento horrível. Porque são poucos os que se dão bem nisso, e Frida tem sorte. Talvez, nesse exato momento, Chris tenha finalmente percebido que ela gosta dele. Vai saber o que acontecia. Eu não queria imaginar. Era tortura demais. Por fim, o cansaço, o enjoo, a dor, e principalmente, o ferimento aberto na minha testa e braços começaram a ficarem mais fortes. Senti a floresta rodopiar enquanto eu me deitava no chão, arquejando. Meus olhos estavam cansados e vermelhos, provavelmente pelas lágrimas. Minha face se encontrava grudenta. Eu deveria estar um nojo. Mas tudo era ruim demais para eu aceitar, e finalmente, uma linha longa de sangue desceu pelo meu rosto, tocando levemente meus lábios, como em um leve beijo, e eu apaguei ali mesmo. Algo passou por entre as árvores e eu nem percebi.